PEQUENA HISTÓRIA DA IMPRENSA PORTUGUESA
ROCHA MARTINS
"Capítulo IX
Periódicos Satíricos e de Caricaturas
Periódicos satíricos houve muitos e já apontámos alguns, mas propriamente de crítica pela caricatura, só se iniciaram com os maus desenhos de O Procurador dos Povos (1838-1848), a-fora um outro pasquim, relativo a D. João VI e os Lobatos, criados do seu guarda roupa, e que foi afixado nas paredes da capital quando da partida da família real para o Brasil (1807).
Depois aparecia um ou outro boneco com a pretensão a sátira, mas sem impor os artistas que os traçavam, como o celebrado Suplemento Burlesco do Patriota (12 de Agosto de 1847 a 9 de Abril de 1853).
O verdadeiro mestre da caricatura em Portugal foi Rafael Bordalo Pinheiro, filho de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, artista e fundador duma dinastia de talentos; Columbano, grande pintor; Tomás, industrial; D. Maria Augusta, bordadora e mestra de rendas; Feliciano, militar distinto e iniciador da fábrica de louças artísticas das Caldas da Rainha; e Manuel, médico especialista.
Rafael, depois de ouvir o mestre de dança, Justino Soares, contar que, sendo carpinteiro, sentira comichão nos pés e se pusera a dançar, dissera: «pois eu também senti a mesma impressão nas mãos e pus-me a desenhar». Obteve êxito artístico com a linda Lanterna Mágica (15 de Maio 30 de Junho de 1875). Publicara a Berlinda, depois o Album de Celebridades, o Calcanhar de Aquiles (1871), o jornal dos teatros O Binóculo (1971) e o celebrado Mapa de Portugal (1871). Partiu para o Rio de Janeiro a-fim de dirigir o Mosquito. Não se deu bem, e lançou o periódico satírico O Besouro. Regressou a Portugal e o seu jornal O António Maria, alusivo a António Maria Fontes Pereira de Melo, chefe do partido regenerador, constituíu um sucesso (12 de junho de 1879 a 1 de Janeiro de 1885); O Album das Glórias (1880) e seguiram-se: Pontos nos ii (1885 a 5 de Fevereiro de 1891) e A Paródia (1900-1901). Seu filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, foi seu colaborador.
Bordalo criou símbolos, dos quais é imortal o «Zé Povinho». Republicano, fêz mais para o advento da República com os seus jornais do que os outros jornalistas do partido, porque em terra onde havia muitos analfabetos os desenhos flagrantes, ousados e elucidativos, eram como catapultas contra o regime. O ilustre artista faleceu em 1905." [Páginas 100 e 101]
Nota : certamente por lapso, o autor não referenciou a publicação da 2.ª série do António Maria (1891-1898). Esta lista não é exaustiva.
[Pequena História da Imprensa Portuguesa. Rocha Martins. Cadernos Inquérito, Série G, Crítica e História Literária XV. Editorial Inquérito, Lda. Lisboa. 1.ª Edição 1941]
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