Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

De novo, Eça

Há anos de grande actividade política; por princípio, todos eles o são. Mas uns, são mais do que outros (ter Orwell à mão é sempre uma mais valia…).

E o presente ano promete: eleições para a Parlamento Europeu, eleições para a Assembleia da República e eleições Autárquicas.

Certamente que a esta hora já existem muitos putativos candidatos, preocupados com sua preparação física, mental e cultural para se posicionarem favoravelmente nos lugares de partida, e de preferência nos de chegada.

Consciente da minha responsabilidade social, imbuída de grande sentido de cidadania, quero contribuir positivamente para essa aprendizagem.

Convidei para me acompanhar nesta árdua e mui responsável tarefa, Eça de Queiroz.

Fruto da argúcia, inteligência e sentido crítico da pena queiroziana, emocionada e persuadida da sua utilidade pública, passo a transcrever:

[capa de "As Farpas", de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, editado em 1871, ilustração de Manuel Macedo ]

“Junho 1871

Há muitos anos a política em Portugal apresenta este singular estado:

Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder… O poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, numa explosão de risadas.

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os que lá não estão - os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do país, e outras injúrias pequenas, mais particularmente dirigidas aos seus carácteres e às suas famílias.

Os outros , os que não estão no poder são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais - os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do país e da pátria.

Mas, cousa notável!

Os cinco que estão no poder fazem tudo o que podem – intrigam, trabalham para continuar a ser os esbanjadores da fazenda e a ruína do país, durante o maior tempo possível! E os que não estão no poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de se- o mais depressa que puderem - os verdadeiros liberais, e os interesses do País!

Até que enfim caem os cinco do poder, e os outros - os verdadeiros liberais - entram triunfalmente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do país; e os que caíram do poder, resignam-se, cheios de fel e de tédio - a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.

Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu torno esbanjador da fazenda e ruína do País….

Não hã nenhum que não tenha sido demitido ou obrigado a pedir a demissão pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis…

Não há nenhum que não tenha sido incapaz de dirigir as coisa públicas - pela imprensa, pela palavra dos oradores, pela pela acusação da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador…

E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o país neste caminho em que ele vai, feliz, coberto de luz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num choito* tão triunfante!

Ora dá-se na política um caso singular:

Um homem é tanto mais célebre, tanto mais consagrado, quantas mais vezes tem sido ministro - isto é, quantas vezes mais vezes tem sido incompantível com a felicidade do país, quanto mais vezes tem montrado a sua incapacidade nos negócios!

Assim o Sr. Carlos Bento foi uma primeira vez ministro da fazenda; teve a sua demissão, e não foi naturalmente pelos serviços que estava fazendo à sua pátria, pelo engrandecimento que estava dando à ceita pública, etc… se caiu foi porque naturalmente a opinião, a imprensa, os partidos coligados, o poder moderador, etc, o julgaram menos conveniente para administrar a riqueza nacional.

Por isto foi ministro da fazenda uma segunda vez: caiu; mostrou de novo a sua incompatibildade, ou a sua inapacidade – pelo menos assim o julgou por essa ocasião, o poder moderador. E a importância do Sr. Carlos Bento cresceu!

Por consequência foi terceira vez ministro: caiu; devemos portanto ainda supor que naturalmente deu provas de não ser competente para estar na direcção dos negócios. E a sua importância aumentou, prodigiosamente.

É novamente ministro: se tiver a fortuna de ser derrubado do poder, se tiver a extrema felicidade de ser convencido, pela opinião, duma incapacidade absoluta, será elevado a um título, dar-se-lhe-ão embaixadas, entrará permanentemente no Almanaque de Gota.

[Eça de Queiroz - Página de "O Besouro", de 4 de Maio de 1878, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro]


E o quem não conseguiu sendo espirituoso e fino, alcancá-lo-à logo que o poder moderador , demitindo-o, tenha provado que ele é incapaz.

Honrada política! Tu és santa, bela, pura, imaculada, coberta de coisas!

Ora tudo isto nos faz pensar que:

Quanto mais um homem prova a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu país!

O que fará proceder o chefe do estado da seguinte maneira seguinte na apreciação dos homens:

O menino Eleutério fica reprovado no seu exame de francês. O poder moderador deita-lhe logo o olho.

O menino Eleutério, continuando a sua bela carreira política, fica reprovado no seu exame de história. O poder moderador, alvoraçado, acena-lhe com um lenço branco.

O caloiro Eleutério, fica reprovado no 1.º ano da faculdade de direito. O poder moderador exulta e quer a todo o transe ter com com ele umas falas.

O sr. Eleutério fica reprovado no 5.º ano. O poder moderador não pode conter o júbilo e fá-lo ministro da justiça.

E a opinião aplaude.

De modo que, se um homem pudesse apresentar-se ao chefe do estado com os seguintes documentos:

Espírito de total modo bronco que nunca pôde aprender a somar;

Estupidez tão espessa que nunca pôde distinguir as letras do A B C ;

Reprovações sucessivas em todas as matérias de todos os cursos.

O chefe do Estado tomá-lo-ia pela mão, e dir-lhe-ia, sufocado em júbilo :

- Tu Marcellus eris! Tu serás, para todo o sempre, presidente do conselho!"

Eça de Queiroz

[Eça de Queiroz n' O António Maria, de 15 de julho de 1880, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro]

[Nota: texto transcrito de As Farpas.Crónica mensal da política, das letras e dos costumes. Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão. Coordenação geral e introdução Maria Filomena Mónica. Principia, 1.ª Edição, 2004]

PS: Comento-me a mim mesma: saboriei cada palavra deste texto de Eça. A ironia em política é uma arma fatal ...

A Visitar

Biblioteca Multimédia Online da Europa


Os meus agradecimentos à Dra. Matilde Tomaz do Couto pela informação

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ferreira da Silva

HOMENAGEM A FERREIRA DA SILVA
DOMINGO - DIA 1 DE FEVEREIRO DE 2009 - CCC
PROGRAMA

16.00h - Exibição do documentário “Gravura, esta mútua aprendizagem”, de Jorge de Silva Melo
17.00h - Mesa redonda sobre os caminhos da cerâmica portuguesa contemporânea, com a presença dos mestres Querubim Lapa, Eduardo Nery e Ferreira da Silva, e do Dr. Paulo Henriques (director do Museu de Arte Antiga). Moderador: Prof. João Serra.
18.00h. – Retrospectiva breve da obra cerâmica de Ferreira da Silva através de imagens (João Serra, Margarida Araújo)
18.20h - Apresentação das Linhas Gerais do Programa da Festa da Cerâmica 2009
18.40h - Inauguração de uma peça da autoria de Ferreira da Silva no foyer do Centro Cultural e de Congresso

Recomendamos uma visita

http://www.spamcartoon.com

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Reportagem à Distância


Tenho por hábito quase diário uma visita ao Blogtailors, da responsabilidade dos Booktailors.

É um blog cujo conteúdo incide sobre o universo editorial, livreiro e cultural; os textos são tratados com grande actualidade, seriedade e profissionalismo.

Considero este blog uma fonte de informação profissional de consulta obrigatória, tanto mais que não me encontro propriamente onde as coisas "importantes" se passam; quer a gente queira quer não, é em Lisboa, que quase tudo vai acontecendo (pelo menos noticiado).

Qualquer notícia referente ao vasto mundo dos livros, nas suas mais variadas vertentes, é transcrita pelos autores deste blog. E os diversos "postes" são frequentemente enriquecidos com os comentários que suscitam.

Por vezes, lá surgem umas opiniões mais discordantes; mas a polémica é saudável, é, não é?

Ontem, ao fim da tarde decorreu na Casa Fernando Pessoa a apresentação do livro “Livros em abundância” da autoria de Gabriel Zaid; uns dias atrás neste blog, este livro mereceu-me uma muito ligeira reflexão.

Personalidades de fortes nomes na área do livro, foram os seus apresentadores: editores, escritores, tradutores.

A novidade está no facto de Blogtailores ter utilizado uma nova ferramenta chamada twitter, possibilitando assistir à distância e quase em tempo real à conversa a recorrer em Lisboa.

Minuto a minuto o repórter de serviço, Paulo Ferreira, ia transcrevendo as ideias chaves expressas pelos participantes, todos eles de grande experiência e profundos conhecedores do assunto em questão.

Só tomei conhecimento das frases chaves e não do discurso total; penitencio-me pelo facto, porque esta conversa era merecedora de uma deslocação a Lisboa. Mas tal não foi possível.

E lamento muito mais porque a informação que até mim chegou, deixou-me com água na boca; soube-me a pouco.

Será que foi falada a actual situação do livro em Portugal? Falou-se ou não que também por cá se publicam livros a mais? Referiu-se a situação difícil sentida por grande parte dos intervenientes do sector? Foi referida a taxa de leitores? E de compradores? E das diferenças de práticas comercias praticadas?

Voltemos ao Blogtailores: podemos ler neste blog notícias referentes às situações de profunda alteração de mercado vividas por este sector em países como, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, etc.

Noticias que nos digam directamente respeito; salvo erro, uma única: o lamentável fecho da Byblos.

Nada se passa por cá? Vivemos no melhor dos mundos?

Não tenho essa percepção.

Será que quando as coisas correm menos bem, fazemos como a avestruz? Lá metemos a cabeça dentro de terra e esperamos que o tempo passe e que ninguém dê por nós?

E nem sequer falamos no assunto, com receio de sermos apelidados de fracos ou falhados?

Está ou não instalada uma crise no nosso sector editorial e livreiro? Gostava de ver debatido este assunto. Ou ando eu a ver fantasmas onde eles não existem, talvez influenciada pela duplo centenário de Edgar Allan Poe?

Pelo sim, pelo não, recomendo a mim mesma que não comemore efemérides...
[A ilustração inicial deste "poste" é, como não podia deixar de ser, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro]

Café Literário

Café Literário

Autor convidado: António Eloy

Livro: Ambiente Letra a Letra

Local: Café Mazagran

Dia 28 – Quarta-feira
Horas: 21,30

Realização: Loja 107, Livraria
e
Núcleo Oeste da Amnistia Internacional

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

340.ª Página Caldense

CARANGUEJO Fábrica Bordalo Pinheiro
[Fotografia de João B. Serra]

"Estando o caranguejo sob uma pedra para apanhar os peixes que se metiam lá debaixo, veio a maré cheia com grande precipitação de pedras que, ao rebolarem, esfacelaram o caranguejo."

Leonardo da Vinci [in: Bestiário, Fábulas e Outros Escritos. Leonardo da Vinci. Selecção, tradução e apresentação de José Colaço Barreiros. Biblioteca de Editores Independentes, Novembro de 2007]

domingo, 18 de janeiro de 2009

339.ª Página Caldense

As Madres


Nas notícias ultimamente publicadas em vários órgãos de comunicação social, acerca da difícil situação vivida pela Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro, fala-se muito das “madres”.

Refere-se sobretudo a necessidade de preservar as “madres” ainda existentes e que remontam ao tempo de Rafael Bordalo Pinheiro ceramista nas Caldas.


Mas sabemos nós do que falamos, quando falamos das “madres”?

Tentando dar uma achega ao assunto, recorri à página da Internet da responsabilidade de Cencal (Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica), dali recolhendo um pequeno texto do ficheiro intitulado “Elementos Constituintes do Processo Cerâmico", ao qual anexei um conjunto de fotografias de madres existentes na Fábrica.


Quero expressar o meu agradecimento ao sr. Formigo, que me conduziu pelos corredores do armazém onde estão bem guardadas as madres, classificadas e identificadas, fruto de um trabalho de minúcia e de extrema dedicação. Agradecimentos extensivos à Elsa Rebelo.


O texto intitula-se: “Caracterização e constituição de uma peça de cerâmica”, que passo a transcrever:

“Para se reproduzirem peças em cerâmica industrialmente, é necessário que estas passem por um processo mais ou menos elaborado até que se consiga obter a peça final.


Estes processos iniciam-se cm a definição do processo de conformação, a partir do qual a peça será reproduzida, e com a execução dos modelos em gesso ou barro, pode-se utilizar as técnicas de facetamento, torneamento, escantilhão, manuais ou mistas. Depois de se ter definido o processo de conformação e se ter optado por uma das técnicas para construir o modelo, é necessário executar o molde original que reproduzirá a forma do modelo. Este molde originalmente também está ligado ao processo de conformação, sendo a sua forma final definida por este.


Para que se possam posteriormente reproduzir vários moldes iguais, é necessário construir uma madre de cada uma das partes que o compõem, podendo ser constituídas em gesso, resina ou silicone.


A última etapa, antes do processo de conformação, é a reprodução a partir das madres, de vários moldes de produção que irão alimentar cada uma das máquinas ou das mesas de enchimento. O processo de conformação pode ser feito por via líquida ou pastoso, existindo para o efeito vários tipos de máquinas. As peças, posteriormente acabadas, serão secas e cozidas.


No final, as peças em barro são decoradas e novamente cozidas. Em alguns casos, podem ser cozidas só uma vez em mono cozedura, porque se coze a pasta e o vidro ao mesmo tempo anunciando una etapa, ou no inverso ser necessário cozê-lo três vezes quando existe uma decoração de terceiro fogo que tem de ir novamente ao forno depois de aplicada sobre um vidro cozido.”

PS: Este texto refere o actual processo de constitução de uma peça cerâmica, em tudo semelhante à utilizada no tempo de Bordalo, à excepção da utilização de materiais como por exemplo o silicone.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Paredes aos Quadradinhos

Vai aparecer por aqui um novo blog (de momento, em construção) que quando estive em pleno funcionamento passará a ser de visita obrigatória.

Chama-se Paredes aos Quadradinhos, e é da autoria da Margarida Araújo.

Azulejos em belas fotografias que mais podemos nós mais desejar?

Quando às paredes aos quadradinhos caldenses, peço à Margarida que seja breve; senão um dia destes não tem que fotografar. Bem vinda ao mundo da blogosfera com um novo sítio.

Não preciso de prometer ser uma visitante assídua; a autora sabe que serei.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Eça, sempre Eça

Hoje à tarde dediquei-me aos papéis. Enquanto punha para aqui umas facturas e uns recibos para acolá , fui ouvindo a Antena 1, que transmitiu em directo o debate da Assembleia da República, entre o 1.º Ministro e os representantes dos vários grupos parlamentares.
E não sei porquê, Eça de Queiroz veio-me à ideia...


Folheei as "Farpas" e lá encontrei o texto intitulado "O que era o partido reformista", que passo a transcrever:

"Ninguém se aproximava dele, no meio da imensa impressão que causava nos moços de fretes. Por fim, pouco a pouco, alguns jornalistas mais curiosos foram-se chegando, começaram a tocar-lhe com o dedo, a ver se era de pau. Era de carne, verdadeiro. Percebeu-se mesmo que falava. Então os mais audaciosos fizeram-lhe perguntas.

– Senhor – disseram – espalhou-se por aí que vindes restaurar o País. Ora deveis saber que um partido que traz uma missão de reconstituição deve ter um sistema, um princípio que domine toda a vida social, uma ideia sobre moral, sobre educação, sobre trabalho, etc. Assim, por exemplo, a questão religiosa é complicada. Qual é o vosso princípio nesta questão?

– Economias! – disse com voz potente o partido reformista.

Espanto geral.

– Bem! e em moral?

– Economias! – bradou.

– Viva! e em educação?

– Economias! – roncou.

– Safa! e nas questões de trabalho?

– Economias! – mugiu.

– Apre! e em questões de jurisprudência?

– Economias! – rugiu.

– Santo Deus! e em questões de literatura, de arte?

– Economias! – uivou.

Havia em torno um terror. Aquilo não dizia mais nada. Fizeram-se novas experiências. Perguntaram-lhe:

– Que horas são?

– Economias! – rouquejou.

Todo o mundo tinha os cabelos em pé. Fez-se uma nova tentativa, mais doce.

– De quem gosta mais, do papá, ou da mamã?

– Economias! – bravejou.

Um suor frio humedecia as camisas. Interrogaram-no então sobre a tabuada, sobre a questão do Oriente...

– Economias! – gania.

Foi necessário reconhecer, com mágoa, que o partido reformista não tinha ideias.

Possuía apenas uma palavra, aquela palavra que repetia sempre, a todo o propósito, sem a compreender. O partido reformista é o papagaio do Constitucionalismo.

O partido reformista apareceu um dia, de repente, sem se saber como, sem se saber por que. Era um estafermo austero, pesado, de voz possante. Ninguém sabia bem o que aquilo queria. Alguns diziam que era o sebastianismo sob o seu aspecto constitucional; outros que era uma seita religiosa para a criação do bicho-da-seda.

Corriam as mais desvairadas opiniões. Apresentava-se tão grave, tão triste, tão intransigente, que no Chiado afirmava-se ser um personagem da história romana – empalhado!"

Eça de Queiroz, Maio de 1871, As Farpas

Fiquei preocupada... Porque diabo me fui eu lembrar do Eça, ao ouvir o debate na Assembleia?. Vou dormir sobre o assunto...

PS: Eça de Queiroz desenhado por João Abel Manta

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

338.ª Página Caldense

MALHOA & COLUMBANO
JOSÉ AUGUSTO FRANÇA
Por favor empresta-me o seu lume?
Desenho de Rafael Bordalo publicado originalmente n'A Paródia, 1903
[Pág. 11]

Elvira Bordalo Pinheiro
(Mulher de Rafael Bordalo Pinheiro)
Pintura de Columbano Bordalo Pinheiro
[Pág. 42]

[...] "Era intensão do autor abalançar-se a um longo texto que fizesse "pendant" ao estudo sobre Rafael Bordalo Pinheiro, o Português Tal e Qual que escreveu; mas descobriu que o tempo passava e não lhe chegava para tanto."[...]

[Malhoa o Português dos Portugueses & Columbano o Português sem Portugueses. Procedido de Nota Sobre Outras Maneiras de Ser Português Todas Referidas a Artistas Plásticos. Autor: José Augusto França. Bertrand Editora. 1.ª Edição, Agosto de 1987.]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Gato de Goya

CAPRICHOS
Manuel Casimiro
Intervensão plástica sobre Os Caprichos de Goya
Texto: Michel Butor
... "o gato resplandece entre o jogador negro
e o médico encanecido que posa"...

[Caprichos. Manuel Casimiro intervenção plástica sobre Os Caprichos de Goya. Texto de Michel Butor. Tradução de Nuno Júdice. Museu Colecção Berardo. Tinta da China. 1.ª Edição, Dezembro de 2008]

sábado, 10 de janeiro de 2009

O Menino no Céu

O que falta?

Falta o menino que vivia perto do céu, no cimo do prédio situado no extremo do Beco do Borralho.

Não consegui saber desde quando este menino ali vive (viveu). Mas por conversa com as vizinhas há quem se lembre dele vai para mais de 50 anos.

Uma noite destas desapareceu. Tenho a certeza que não levantou vôo em direcção às estrelas de uma noite fria. ... porque não tinha asas.

Foi certamente aprisionado num qualquer saco de sarapilheira e um dia destes vamos encontrá-lo à venda, quem sabe, num site da internet.

Quem não fica a ganhar é a cidade que perde deste modo uma das suas pequenas particularidades, certamente sem grande valor monetário, mas de valor afectivo.

Agora quem vamos nós cumprimentar aos passarmos pelo Beco do Borralho, se já lá não está o menino a quem dizíamos adeus, e que do alto do seu pedestal esboçava um sorriso?

Os azulejos com gatos, do pequeno prédio da Rua Heróis da Grande Guerra, ficavam no enfiamento do seu olhar.

Desapareceram os azulejos, desapareu o menino. O que se se seguirá?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

337.ª Página Caldense


UMA JOANINHA A VOAR
DIREITO À DIFERENÇA
História de ALEXANDRE HONRADO com a raparigada e a rapaziada das Caldas da Rainha a dar ideias

"Sinto-me voar, eu, que há anos que sou uma espécie de nuvem, céu azul á minha volta, um coração algures, e muitas gotinhas ora brancas ora pesadas de chuva miudinha-grossa ideias que me vou dando, águas de cultura que me vão dando e eu bebendo. Sinto-me voar. E hoje sou Joaninha, e hoje tenho as cores que me apetece, e vou de ramo em flor mais ágil que uma abelha, que essa é cera e mel e eu sou mais, eu sou o Sol e o céu dentro da cabeça, rodopio, pião, arco-íris, luz e multidão...Sinto-me voar,"

[Uma Joaninha a Voar Direito à Diferença. Autores: Alexandre Honrado com a raparidada e a rapaziada das Caldas da Rainha a dar ideias. Ilustradores: Joana Rita, Tatiana Abreu, João Vargas, Hugo Viegas e Ana Raquel. ISBN: 972-98484-0-8. Ano de edição: 2000.Colecção a Ponte nr. 1]

domingo, 4 de janeiro de 2009

336.ª Página Caldense

O ANTÓNIO MARIA - 27 DE MARÇO DE 1884 - Página 98

A SEMANA

"O acontecmento industrial foi a chegada do nosso amigo Feliciano Bordallo Pinheiro, que regressou do Brazil, onde percorreu os centros mais importantes, na aquisição de accionistas para a grande Fábrica de Faianças que a empresa Bordallo Pinheiro, coadjuvada por subito número dos nossos primeiros capitalistas, vai brevemente construir nas Caldas da Ranha.

O acolhimento que o nosso amigo obteve n'aquele império foi ainda além das suas arrojadas previsões, podendo aferir-se por elle que o desenvolvimento artístico d'aquelle ramo de indústria attingirá proximamente entre nós importancia ainda superior à que já o tornou notável nos tempos do marquez de Pombal, e em que poucos dias veremos conhecidos e apreciados na Europa os nossos productos ceramicos, então porventura em rivalidade com as mais finas faianças de Saxe."

335.ª Página Caldense

O ANTÓNIO MARIA – 10 DE JANEIRO DE 1884 – Página 11

A SEMANA

"Muita falta de assuntos a primeira semana do ano novo…

Ao começar julgámos que os altos poderes políticos que nos regem, empanturrados de peru e broa de milho ao ponto de se lhe tocar com dedo, estavam em casa estendidos sobre o fofo sofá de molas, de coletes desabotoados para facilitar a operação do chylo, não tardando porém que, uma vez satisfeitas as urgências da digestão, saltassem lestos para o seio da representação nacional, desabotoando aí os alçapões da eloquência sobre as importantes questões que se acham fermentando no amassadoiro das reformas.

Qual carapuça!...

A política impanzinada chegou ao parlamento de língua de fora, não lhe sobrando o fôlego senão para nomear comissões, n’aquela azáfama de afazeres de quem não tem nada que fazer.

Abençoadas broas e abençoado peru! Ao menos, em quanto se opera aquela digestão de jibóia e a politica descansa a nomear comissões, em vez de se ocupar em lançamentos de decimas,

Descansamos nós também
No chão deitados de costas;
Que em quanto o pau vai e vem
Sempre vão folgando as costas…"

334.ª Página Caldense

O ANTÓNIO MARIA – 3 DE JANEIRO DE 1884 – Página 6

A ANO NOVO

"Ei-lo! O jovem recém vindo!
- Ora, então, seja bem vindo
Ao país formoso e lindo
Onde cresce a laranjeira…
Aos seus dons faço justiça,
Mas hei-de ir logo ir ouvir missa,
Porque, enfim, sempre me enguiça,
Começando à quinta feira…

Além d’este, só existe,
Mais funesto que lemiste,
Outro agoiro negro e triste,
Que me oprime e que me pese:
- Fora se o ano aziago,
Abrenúncio! Saramago!
Além do dia presságio,
Começaste em dia 13!...

Mas, com meio enguiço apenas,
Virão misérias pequenas;
E, com rezas e novenas,
Talvez que o mal se debele…
- Consultei a pitonisa,
E, eis que ela profetisa:
«Ides ficar sem camisa,
Mas ninguém vos tira a pele…»

N’estes termos, pois, já vemos,
Que os males não são extremos,
E que um recurso inda temos
Na rica pele que nos resta:
Quando o erário, enfim, exausto,
Já não der p’ra o régio fausto,
Oferta-a em holocausto,
P’ra ser o bombo da festa!...

Eia, pois! Nada de sustos!
Não virão tempos adustos…
E, demais, somos robustos,
Temos bom lombo p’ra carga…
O melhor, penso p’ra mim,
É suportar o selim,
Deixar girar o marfim…
E o coração sempre à larga…

Isto assentado, isto posto,
É mostrar alegre o rosto;
Que nem sombra de desgosto,
Nos venha atrasar o chilo…
P’ra que ver as coisas lívidas,
Se elas são róseas e vívidas?
Tristezas não pagam dívidas…
Ora, pois, sebo de grilo!

E, em suma, quando o diabo,
De raiva mordendo o rabo,
Protestar, enfim, dar cabo
Da desditosa Parvónia,
Temos certo que Inglaterra
- Visto que aos mortos se enterra –
Nos dá dois palmos de terra…
… E Deus Fontes super omnia!..."

Pan
(Pseudónimo de Alfredo Morais Pinto, que também assina Pan-Tarântula)

sábado, 3 de janeiro de 2009

333.ª Página Caldense

A FOZ DO ARELHO NA LENDA E NA HISTÓRIA
JAIME UMBELINO

[...]"Segundo essa antiga lenda, teria existido no Monte do Facho, um poderoso castelo, cujo último senhor teria sucumbido aos golpes traiçoeiros de uma outra personagem lendária: o barão do Penedo Furado. E acontece que, em todo o decorrer da narração, é citada a Lagoa que, nas suas águas tranquilas, tinha, do lado nascente, o Penedo Furado, em cujas escarpas assentavam os paredões do antigo castelo, sendo alheio a um e outro o povoado da actual Foz do Areho, o que o põe totalmente "fora da lenda"."[...]


[A Foz do Arelho na Lenda e na História. Jaime Umbelino. Edição do Autor. 1000 Exemplares. 2006.]

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Livros de Mais


No final do ano passado foi publicado um livro cujo título é: “Livros de mais, Ler e Publicar na Era da Abundância”.

Nunca um livro foi mais actual, com a particularidade de o título retratar uma situação que é vivida no dia a dia de qualquer livraria.

O autor, Gabriel Zaid, vive na cidade do México com a artista Basia Batorska, três gatos e dez mil livros.

Antes de ter lido o livro senti logo uma grande afinidade com o autor.

Tal, deve-se à particularidade de também viver com gatos, de estar rodeada de milhares de livros e principalmente, de me preocupar com o facto de haver livros de mais.

“Nasce um livro de trinta em trinta segundos”, informa o autor.

Certamente que cá em Portugal a média não é esta. Não sei qual é.

Claro está, que li este livro. E a sua leitura suscitou-me algumas considerações enquanto livreira, e relativamente ao mercado do livro em Portugal.

Umas das minhas preocupações é sem sombra de dúvida a quantidade desmesurada dos livros publicados entre nós.

E isto porque:

- Não chego a tomar conhecimento dos inúmeros títulos que diariamente saem para o mercado; se há editores que dão a conhecer as suas publicações, outros há, talvez devido à sua dimensão, que acreditam nos dotes adivinhadeiros dos livreiros;

- Como resultado dessa atitude, ou os seus títulos são falados nos média, e aí tornam-se conhecidos, ou então passam para o limbo dos títulos desconhecidos;

- E esta situação acentuou-se com a possibilidade de publicação “a pedido”;

- E da oferta que nos é feita, que livros escolher? Dado o facto impossível (tanto sob o ponto de vista económico, como logístico) de encomendar todos os livros que são publicados, que critério aplicar na sua selecção? O título mais comercial? O autor de nome mais sonante? O mais “intelectual”? O mais barato? O mais caro? O que oferece mais desconto? O da capa ais apelativa? Utilizar a técnica do “achamento”: Eu acho que? …

- Depois temos outro problema: os custos dos portes, que se estão a tornar incomportáveis; não esquecer que a minha realidade não está localizada em Lisboa, ou Porto, onde a entrega de livros é frequentemente feita num curto espaço de tempo e directamente pelo editor/distribuidor;

- Tempo de entrega das encomendas? Temos de tudo; desde a entrega no dia seguinte ao pedido, até … quando chegar logo se vê;

- Quando um determinado livro é sujeito a uma grande procura, por vezes certas livrarias fazem encomendas muito significativas, e pura e simplesmente deixa de haver mais livros para distribuição; mais tarde aparecem, resultante de devoluções;

- Este parágrafo é inesperado; então queixo-me que há livros de mais, e depois não tenho livros para vender? Mas é um facto; incongruências do mundo livreiro…

- Eis que os livros chegam à livraria, onde é necessário efectuar todo um trabalho de carácter administrativo: conferi-los e marcá-los, fazer uma ficha bibliográfica; todos nós sabemos que o Livreiro é por principio um individuo possuidor de uma certa cultura (será?); mas daí a saber classificar todos os livros quanto ao assunto versado, vai uma grande distância; porque não trazem uma pequena ficha técnica à semelhança da generalidade das edições estrangeiras, de onde consta a classificação do assunto?

- Agora torna-se necessário arrumá-los; torná-los visíveis aos olhos de um potencial cliente é a nossa intenção; como consegui-lo sem anular a visibilidade dos livros recebidos ontem? E isto considerando que nem todas as livrarias são da dimensão de um estádio de futebol (só que com muito menos espectadores…)

- E depois, vendê-los? Trabalhamos para um nicho de mercado, menos de 50% da população portuguesa, compra 1 livro por ano. Qual a percentagem de livros comprados dos muitos que semanalmente são postos no mercado? Alguém sabe?

- Livros há que recebo x exemplares; 3/4 meses depois continuam os mesmos x exemplares. Pergunto: falta de visibilidade? Título não atractivo? Autor desinteressante? No mínimo, uma (minha) má compra.

- Mais um elemento: a moda de publicar por quem está na moda. O facto de se ser visível, de aparecer, não quer dizer que tenha algo a escrever. Mas por aqui não quero entrar; a qualidade de muitos livros publicados – é a qualidade mensurável? com que critérios? - deixa muito a desejar.

- Será viável uma política de publicação desenfreada, em que o objectivo é a ocupação de espaço comercial, e não quebrar de modo algum a cadeia de publicação em cascata?

Estas são algumas considerações – básicas e exclusivamente profissionais – que me suscitou a leitura de “Livros de mais. Ler e Publicar na Era da Abundância”.

Uma certeza tenho: no mundo da edição estamos a viver acima das nossas possibilidades, mesmo assim, não satisfazendo as nossas necessidades, pois inúmeros títulos de obrigatória publicação, estão esgotados.

Já nem ouso referir o facto de tanto papel gasto inutilmente...

Serão estas as considerações atabalhoadas de uma livreira que não sabe o que há-de fazer a tantos livros?

Será o desabafo fracassado de quem não conseguiu publicar um único livrito?

Será que o cemitério dos livros criado por um autor muito em voga existe mesmo? Não me custa em crer.

Será o desejo íntimo de um ano editorial diferente para 2009?

É, sem dúvida.

PS: não existe qualquer semelhança entre o que aqui ficou escrito e o conteúdo do livro mencionado.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

332.ª Página Caldense

FIGURA DE MOVIMENTO - VELHA MARIA - 1901
Rafael Bordalo Pinheiro
Postal Edição IPPC
PRATO CAMACHO -1892
Rafael Bordalo Pinheiro
Postal Edição: IPM
JARRA ALGAS - 1905
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro
Postal Edição IPPC
BILHA DE SERENATA - 1896
Rafael Bordalo Pinheiro
Postal Edição: IPPC

CANUDO POPA - 1900
Rafael Bordalo Pinheiro
Postal Edição: IPPC

JARRA MAGNÓLIA - 1900
Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha
Postal Edição: IPM

JARRA - 1892/1896
Atelier Cerâmica, Visconde de Sacavém
Postal Edição: Museu da Cerâmica

JARRA DO DR. FEIJÃO - 1888
Rafael Bordalo Pinheiro
Postal Edição: IPPC