Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



quarta-feira, 28 de março de 2012

Novo Fado



O Fado Ilustrado - Textos e Desenhos de Jorge Miguel - Cores de João Amaral
Plátano Editora - Fevereiro de 2011



sexta-feira, 16 de março de 2012

Aniversário da Electrolider




Amanhã a Electrolider completa 25 anos. A trabalhar na Rua Heróis da Grande Guerra, fomos vizinhos de trabalho e o Zé Ventura foi meu companheiro de bica durante muitos anos. Então e aquelas conversas sobre o comércio, sobre a cidade em que acabávamos sempre de acordo na crítica? Ao Ventura os meus parabéns e um abraço amigo, porque 25 anos não se fazem todos os dias. E "prontos"!

terça-feira, 13 de março de 2012

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore






A minha amiga Isabel Tomás enviou-me este video delicioso. Quero partilhá-lo com o maior número de amigos que ainda gostam de livros. Obrigada Isabel e podes mandar mais!

terça-feira, 6 de março de 2012

A História da Traça Mimi




Esta é a história de uma traça, Mimi de sua graça, que nasceu numa madrugada de Janeiro lá para os lados dos Casais Brancos, para as bandas de Óbidos.

Quando ela abriu os olhos, estonteada pelo sol que brilhava no céu azul, a custo, começou a bater as suas pequeninas asas e levantou voo.

Logo ali uma casa branca num quintal com uma laranjeira. As janelas rasgavam-se para um horizonte a perder de vista até ao mar.

A traça, voou mansinho e ao encontrar uma porta aberta, espreitou à esquerda e à direita e resolveu avançar.

Lá dentro que espanto. Ela nem queria crer no que via. Livros e livros, feitos de histórias, cores, letras e dos mais diversos e saborosos papéis. Pensou lá para consigo mesmo: o mundo é assim? É muito melhor do que eu podia desejar! Tanto papel: azul, verde, amarelo, lilás, rosa, com sabor a mar, a céu, a flores, as nuvens, eu sei lá que mais!...

Provou de tudo e depois de barriga inchada deitou-se a dormir ao sol em cima de uma enciclopédia do corpo humano. Aconchegou-se entre os relevos de uma mão desenhada.

Foi-se o dia e fez-se noite. E novo dia nasceu.

Mafalda entra determinada a classificar e arrumar uma partilha de livros que tinha chegado na véspera.

Pegava ela um braçado de livros, quando ouviu um muito leve bater de asas, quase um suspiro. Olhou em redor e deu de caras com a traça que voava baixinho sobre a enciclopédia. - Uma traça! Uma traça na Livraria?! Mafalda quase teve um chilique, mas logo dominou o seu pânico, abeirou-se da traça, pegou nela com muito cuidado para não lhe partir as patinhas, e colocou-a ao ombro. E disse-lhe: - Menina, tem juízo, fica aqui que eu levo-te a passear! Os livros não são para comer, são para ler.

E a traça por ali ficou, abrigada por debaixo da gola do casaco azul que a Mafalda vestia.

No dia seguinte Mafalda foi às Caldas da Rainha. E bem aconchegada no lenço que traçou ao pescoço, lá foi a traça, de quando em quando a esticar a cabecita para ver o que se passava.

Encontrámo-nos no Centro Cultural na apresentação dos “cromos” de Nuno Markl com ilustrações de Patrícia Furtado. Eis senão quando olho e digo espantada: - Mafalda está uma borboleta a passear no seu pescoço!

Mafalda riu-se e disse: - Borboleta qual quê! Então não se vê que é uma traça! Trago-a a passear pois se a deixo na livraria dá-me cabo do Soldadinho de Chumbo, da Bela Adormecida ou do Gato das Botas!

Com todo o carinho Mafalda tirou a traça do seu ombro e poisou-a no meu. – Fica bem ai! Ela vai gostar – Disse ela.

Levei a mão ao ombro fiz uma festinha à traça e disse: - Obrigada. Prometo tratar bem dela. E para já vou dar-lhe um nome: Mimi.

Estivemos mais um bocadinho na conversa e depois foi cada uma à sua vida. A Mimi lançou à Mafalda um olhar com uma lagriminha no canto do olho, acomodou-se e lá seguimos a caminho de casa.

Quando lá cheguei, mal entrei e a gata livreira Florbela veio dar-me as boas vindas. Cerrou os olhos verdes e disse-me: - Então que é isso? Agora temos concorrência? Outro bicho de estimação cá para casa?

- Florbela, concorrência qual quê? Então não vês que é uma traça e estas não são concorrentes dos gatos! Gostam de Livros, principalmente de poesia, e não comem carapaus! - Repliquei.

Florbela deu duas miadelas e lançou-me: - Isso é que tu te enganas! Então não sabes que os gatos também gostam de livros? Duvidas, tu, que me crias-te entre tanta filosofia, história, literatura, matemática, direito, e sei lá que mais?

- Tu que sabes que aqueles de que eu sempre mais gostei foi dos de caricatura? Rebolava-me ao dormir sobre eles… Se não é minha concorrente, é então o quê?

- Florbela, não sejas egoísta. Há livros em número suficiente para ambas. Além do mais a Mimi não vai ficar cá em casa. Vai fazer-me companhia na Oficina de Encadernação onde estou a aprender a mui nobre arte de encadernar livros. Ela gosta de livros antigos, e desses há muitos na oficina dos Mestres Florindo e Costa. Lá onde as pessoas levam os seus livros doentes, que ganham saúde nas mãos hábeis e sábias dos Mestres que os colam, cozem e por fim os revestem a ouro.

Florbela acalmou. Mimi voou para o livro que estava na prateleira mais alta no canto da estante. Um livro encadernado a pele, com o título gravado a ouro na horizontal da lombada “O Livro dos Casos Inimagináveis”.

Mimi com cuidado afastou as folhas e entrou no livro. Florbela saltou, deu duas voltas em redor de si mesma e aninhou-se, preparando-se para passar a noite.

Na manhã seguinte, ao sair de casa a caminho da oficina de encadernação, Mimi, como que aterrou no meu ombro e lá fomos as duas aprender a cuidar de tesouros, fazer de velhos, novos livros.

Para a Mafalda do Bichinho do Conto que ganhou o Prémio Booktailors 2012, pelo trabalho desenvolvido na sua Livraria.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Gato num apartamento vazio



Gato num apartamento vazio

Morrer não é coisa que se faça a um gato.
Que há-de um gato fazer
num quarto vazio?
Subir às paredes?
Roçar-se nos móveis?
Aparentemente não mudou nada
e no entanto está tudo mudado.
Continua tudo no seu lugar
e no entanto está tudo fora do sítio.
E à noite a lâmpada já não está acesa.

Ouvem-se passos nas escadas,
mas não são os mesmos.
A mão que põe o peixe no prato
também já não é a que o punha.

Há aqui qualquer coisa que já não começa
àhora do costume,
qualquer coisa que não se passa
como deveria passar-se.
Havia aqui alguém que há muito estava e estava
e que de repente desapareceu
e agora insistentemente não está.

Procurou-se em todos os armários,
revistaram-se as estantes,
espreitou-se para debaixo do tapete.
Violou-se até a proibição
de desarrumar os papéis.
Que mais se pode fazer?
Dormir e esperar.

Quando regressar, ele vai ver.
Ele vai ver quando chegar.
Vai ficar a saber
que isto não é coisa que se faça a um gato.
Caminhar-se-á em direcção a ele
como que contrariado.
Devagarinho,
com patas amuadas.
E nada de saltos ou mios. Pelo menos ao princípio.

Wislawa Szymborska
(Tradução de Manuel António Pina