ÁLVARO D'OLIVEIRA
"O espírito satírico pode assumir duas formas de expressão, distintas mas complementares: uma literária - a satírica; outra - plástica - a caricatura.
Sob o ponto de vista plástico porém, o trabalho do caricaturista releva uma dimensão diferente, se não mesmo antagónica da do retratista. Ao contrário do retrato que procura atenuar os defeitos do real, a caricatura procura, pelo exagero do traço, o seu aprofundamento. E isto fundamentalmente porque, enquanto o retratista procura o sublime, o intemporal,o intemporal, a eternidade para o seu modelo e luta contra o tempo, o caricaturista adere ao tempo, inscreve-se no próprio tempo, situa a essência e o objectivo do seu trabalho no imediato e no transitório, arrancando o modelo da eternidade para o quotidiano, desce-o do seu pedestral e denuncia-lhe o carácter episódico, anedótico numa palavra, caricatural. Esta denúncia todavia, dá à caricatura um papel parodoxal que é o seu: deformar para corrigir. Isto é, a caricatura exagera o traço, deforma o real, para criticar e critica, satiriza, para corrigir, para deformar, em geral, os costumes morais e políticos.
A caricatura mergulha assim, as suas raízes mais profundas no devir histórico da realidade política e social."
Nuno Severiano Teixeira [Introdução]
[Caricaturas Políticas. Álvaro d´Oliveira. Editora Sementeira.Tiragem 1000 exemplares. Janeiro de 1985.]
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