Uma mesa de plástico, branca
junto da tarde que morre
e renasce por pequenas paixões
de repente estávamos sozinhos
as ilhas muito inacessíveis
agora que escureceu
o menor desejo teria um sentido delicado
os olhos velozes de um gato
viam coisas belas
lado a lado com os homens
pareciam quase não ter sofrido
a mesa estava encostada às janelas do café
e nós de forma desolada
ignorados, aturdidos, de passagem
não muito mais
procuro desse facto uma versão
que me não conduza à inconfidência
era uma mesa lisa, branca
uma razão soletrava ao acaso
a medida soberana do incerto
olhos velozes de um gato
os teus olhos
José Tolentino Mendonça
BALDIOS, Assírio & Alvim, 1999
Página da autoria da Margarida Aráujo.
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