Não é um livro. É um livrinho; tanto pelas suas modestas dimensões, 14 por 10,5 centímetros, como pela sua vetusta idade. A sua edição remonta a 1878. Com 38 páginas numeradas, perde-se no meio dos exemplares mais robustos. Apesar do seu tamanho, este livrinho (como eu gosto de lhe chamar) é uma verdadeira preciosidade.
O seu título. “Origem do Real Hospital e da Villa das Caldas da Rainha com mais alguma noticia interessante assim histórica como archeologica, e também acerca da virtude das aguas mineraes da dita villa”.
O seu autor: D. Luis Vermell y Busquets (o peregrino espanhol),”Pintor, e esculptor-entalhador da Real Casa de Sua Magestade o Senhor D. Fernando.”
Editado em Lisboa na “Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes, impressor da Casa real, Rua dos Calafates, 110”
Falta informar que é um “excerpto do tomo VI da obra inédita das viagens”, do autor.
A páginas 32, um capítulo que suscitou o meu particular interesse, intitulado:
“Quatro palavras acerca da villa das Caldas da Rainha
Tem esta Villa 4.000 habitantes que muitos possuem um quinhão de terra; outros vivem da productiva colheita dos banhos como já se disse; alguns de commercio e venda de rendas brancas feitas em Peniche; outros de oleiros e mais trabalhos de louças de utilidade e de mero adorno. Este ultimo producto é d’um género especial e exclusivo d’esta localidade e são três os principais fabricantes o sr. Francisco de Souza, o sr. Manuel Mafra e a sr.ª Henriqueta chamada a viúva. Esta industria é exercida por jovens do sexo masculino e feminino que dá gosto vel-os trabalhar, aquelles com engenho e facilidade, e estas com dedicadeza; elles construindo formas e d’ellas tirando mil objectos, figuras e animais cujos corpos que de propósito saem mutilados, logo os membros de pernas, braços e orelhas conforme o animal, são soldados com a maior frescura e graça do mundo; ellas lavrando uns cestinhos como de junco, pratos para collocar frutas e infinidades d’outros objectos engraçados que é um prazer observar estas tranquillas e separadas oddicinas. O mais admirável d’estes obreiros é que nenhum sabe dezenho, e que até inventam! Porém é sensível que se não dedicam a estudar a arte que em todas as peças lhes falta! E que muitas com menos trabalho, isto é, mais sóbrias de ornato seriam mais lindas. Enfim, ainda com os adiantamentos que na forma e na cor lhes faltam a estes trabalhos de louça, o caso é, que é muito sympathica e incita adquirir algum exemplar, pois alguns, sobretudo de animaes e vegetaes formados do natural, traz alguma recordação dos afamados feitos na Itália séculos atraz.”
O conteúdo deste pequeno grande livro obriga a que volte ele. Transcreverei outros capítulos. É a visão abalizada de um turista em passeio pela nossa cidade, passados que são cento e trinta e um anos
1 comentário:
estas palavras só valorizam a passagem do Rafael Bordalo Pinheiro pelas Caldas, que lhe deu a tal dimensão artística que faltava, Isabel...
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