A REVOLUÇÃO DE 14 DE MAIO
CESAR DA SILVA
[...]
"O caso das Caldas da Rainha é concludente. No dia 2 d'abril, após uma pomposa procissão do Senhor morto, deu-se uma briga na rua,entre beatos e livre pensadores, de que resultou a morte d'um d'aqueles.
Existia na vida, (sic) desde muito, uma profunda antipatia entre o grupo democrático, que tem por chefe o farmacêutico Maldonado Freitas, e os assalariados dos caciques evolucionistas, entre os quais avulta um toireiro amador bastante conhecido. Meses antes tinha sido o sr. Amandio de Carvalho, velho republicano, assaltado por uma turba de bandidos, que o maltrataram rudemente e lhe roubaram o dinheiro que levava.
Apesar de tudo, porém o que se passou após a referida briga, foi tão pasmoso, que chega a ser inacreditável. Um bando de sicarios, dirigindo-se para a residência do sr. Maldonado Freitas, assalta-lh'a. A vitima, que nada tivera com a desordem antecedente, busca defender-se e assim consegue salvar-se com a mulher e um filhinho, mas a malta, entrando-lhe em casa, despedaçou tudo. Os frascos da farmácia vieram para em cacos à rua; o mobiliário foi desfeito e as roupas convertidas em farrapos.
A pessoa que estas linhas escreve viu os estragos e ficou horrorrisada." [Pág. 14 e 15]
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"Rematamos este capítulo com a narração d'um facto sucedido na Amoreira, lugar próximo das Caldas da rainha, que prova bem como não se extingue com facilidade a sanha dos inimigos da República.
Vai fora da ordem cronológica o que pouco importa.
No dia 19 de maio uns quaisquer indivíduos praticaram a reprovável acção de entrarem de noite na igreja d'esse lugar, escangalhando algumas imagens. Supõe-se que nem fossem do sítio.
No dia seguinte, porém, os caciques monárquicos, incitando o povo contra os principais republicanos da terra , a pretexto de que tinham sido eles os autores do sacrilégio, fizeram com que a turba desvairada lhes assaltasse as residências, espatifando o mobiliário e roupas de três pobres famílias.
Foi a repetição do vandalismo praticado com o farmacêutico Maldonado Freitas, usando os assaltantes a mesma fúria destruidora.
E vem a propósito dizer que tinha havido toda a benevolência para com os criminosos do caso das Caldas. Cinco que estavam na cadeia, reconhecidos como principais autores da selvageria, foram postos em liberdade sem se lhes instaurar processo." [Pág. 99]
[Empresa Editora "O Recreio". Data de edição: 1915. Preço: 300 réis]
Os meus agradecimentos ao Comandante Loureiro de Sousa pela partilha desta fonte bibliográfica.
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