Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



sexta-feira, 7 de março de 2008

260.ª Página Caldense

PORTUGAL DE RELANCE
MARIA RATTAZZI

"Entrámos nas Caldas às seis horas da manhã. Todas as ruas das adeias parecem-se umas com as outras; sempre as mesmas pedras agudas e hostis, as mesmas crianças bronzedas pelo sol, esfarrapadas, correndo atrás das galinhas; um cão que ladra com toda a força dos pulmões, uma diligência que chega, branca de poeira, arrastada por uns cavalos lazarentos e tísicos. E pelo caminho, frescas aldeãs com cestos à cabeça, com bilhas de leite nos braços, fazendo meia e parando para dar os bons dias aos compadres.
[... ]
Perdão, a velha Caldas, a primitiva Caldas, aquela que não mudará provavelmente nunca, não passa de uma aldeia que não deve nada à civilização das elegantes vivendas que se lhe agrupam em torno.
[...]
A propósito, sucedeu-me uma dessas pequenas catátrofes que fazem as delícias dos narradores de anedotas.

Não devendo passar senão três dias nas Caldas, quis aproveitá-los para tomar um ou dois banhos sulfúricos.

Cheguei pois muito cedo ao estabelecimento. Parece que era a hora propícia, segundo se depreendia da afluência dos banhistas e do facto de não haver uma única tina disponível, conforme julguei perceber ao empregado que me falava numa linguagem inintelígivel. Cansada de esperar, pedi a uma das mulheres encarregadas do serviço dos banhos, que me conduzisse à piscina. Ela obedeceu de má catadura, tentando primeiro dissuadir-me por meio de uma pantomina expressiva. Foi só então que reparei para o tapete de areia ondulante depositado no fundo da tina. Tomei o banho na companhia de duas ou três mulheres que não me pareceram modelos de distinção e graça. Mas não se deve ser demasiado exigente, e de resto nem só a beleza constitui título de recomendação.

Começava a experimentar o encanto de uma temperatura doce e igual e calculava mentalmente o bem que deveriam fazer estes banhos, mesmo tomados em pequena quantidade, quando ouvi de repente uma voz áspera dizer. «Vamos, vamos, é preciso sair, são horas da sopa!»

Imediatamente as boas velhas precipitaram-se para a escada em vez de voltarem altivamente as costas, como eu esperava. Horresco referens!. Eram doentes do hospital, o banho era gratuito e eu tinha confraternizado com as pobrezinhas, que tornei a ver descalças, quando fiz a minha primeira visita oficial da tarde, e que me olharam familiarmente... Imagine-se a extensão do meu infortúnio!..." [Páginas 438 a 442]

[Portugal de Relance. Maria Rattazzi. Actualização do texto, introdução e notas de José M. Justo. Título original: Portugal à vol d'Oiseaux. Antígona. 1997. ISBN 972-608-090-8. Originalmente publicado em 1879, em Paris.]

PRINCESA RATTAZZI
ALBUM DAS GLORIAS - ABRIL DE 1880
RAFAEL BORDALO PINHEIRO

2 comentários:

Luis Eme disse...

Quanta pretensão da Madame Ratazzi (mas o nome até não ajuda muito...).

Anónimo disse...

Ola Isabel

Qual tempo...e tempo que não se tem para a leitura.....de boa vontade o dia é noite e a noite é dia.....para tudo é preciso um impulso certo...Quem me ensinou a lêr não foi o meu professor porque esse era pago para me obrigar a lêr, quem me ensinou a ler foi a Isabel......Obrigado
Vitor Pires