Dantes morava numa casa como toda a gente, contou-me ele com a sua voz maliciosa. Mas perdia demasiado tempo a ir à biblioteca ou à livraria fazer as minhas aquisições. Um belo dia, decidi virar uma página e viver rodeado dos meus livros. Eu era ainda jovem, e a minha cabana não tinha tecto. Era muito desagradável. As capas dos livros empenavam, as palavras apagavam-se, as palavras desapareciam. Depois, com o passar dos anos, as minhas obras acumularam-se e a minha cabana ganhou amplitude: tem agora vários andares e totaliza setenta e sete divisões. A que eu mais gosto? Aquela onde leio versos nos dias de inverno à luz de uma vela, quadras nas madrugadas, octossílabos à segunda e sonetos nos anos bissextos."[Pág. 14]
[Sementes de Cabanas. Philipe Lechermeier e Éric Puybaret. Kalandraka. ISBN 978-972-8781-68-2]
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