Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves - só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Purissímo. Doirado.
Eugénio de Andrade
[Poesia.Eugénio de Andrade.Edição Fundação Eugénio de Andrade. 2000.ISBN 972-8465-33-5]
2 comentários:
Ai Setembro!
Das tardes calmas e noites frias
Adivinhando a neves.
Ai Setembro!
Das uvas cheirando a mosto
Dos frutos maduros pelo sol de Agosto.
Ai Setembro!
Dos ouriços que abrem
Como vaginas,
Mostrando os frutos do seu ventre
Ai Setembro!
Dos verdes que fogem
No castanho das cores,
No vermelho das parras
Que duram pouco,
Como os amores de verão.
Ai Setembro!
Das flores tardias
Que espreitam o sol
Nas tardes de Outono.
Ai Setembro!
No silêncio da luz
Das noites estreladas.
Ai Setembro!
Do cheiro terra molhada
Das folhas que caiem.
Ai Setembro!
Da solidão dos velhos
Nos longos caminhos da vida,
Na ferrugem dos orvalhos.
Ai Setembro!
Do Inverno que se anuncia
Nas primeiras chuvadas,
Das espigas douradas,
E das desfolhadas
Onde as raparigas
Procuram, no milho rei,
O beijo que eu não dei.
Ai Setembro!
João Norte
Para todos os leitores da Isabel...
Para
"Improviso
Uma rosa depois da neve.
Não sei que fazer
de uma rosa no inverno.
Se não for para arder
ser rosa no inverno de que serve?"
de Eugénio de Andrade
"E a esperança, Poeta?
O Poeta não sabe
O que faz uma rosa no Inverno?
- E a esperança, Poeta?
Se tu não sabes...
O que é que vamos fazer?
A quem vamos exigir a resposta?
Qualquer inverno será menos frio
Menos cinzento
Com uma só pétala que seja
De qualquer rosa"
Maria Belmira
25/8/2000
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