Raphael Bordallo Pinheiro, o trocista semi-philosopho, que tomou a seu cargo fazer á pena e a lápis, sobre a crusta amarela do papel autografo, o comentário risonho, e não raro cheio de bom senso,do seu tempo e da sua terra, querendo fixar em uma caricatura symbolica o feitio moral do nosso povo, no involucro ratão do seu feitio physico, creou o Zé Povinho.
Mas era preciso explica-lo, defini-lo, caracterisa-lo insuflar-lhe vida, e torna-lo immortal. E assimo fez o Álbum das Glorias pela penna alegre de João Ribaixo.
Segundo esta risonha biographia, não consta que jamais as graças da infancia se houvessem conservado por tão longo tempo num homem, como phenomenalmente se conservam na pessoa do Ze Povinho. Nelle concorrem em feliz conjunto todas as partes que nos enlevam e encantam no “bom menino”: casta inocência, temor de Deus, obediência a seus mestres, humildade, a santíssima ignorância. Aos carinhosos disvelos da sua extremosa mãe, a Carta, e do seu galhofeiro pae, o Parlamentarismo, se deve o estado miraculoso de infantilidade que tão vantajosamente recomenda Zé Povinho á sympathia e ao espanto de todo o mundo.
Ele começava apenas a ter-se nas pernas, cambadas pelos esforços feitos para se pôr em pé antes de tempo, quando os Poderes seus paes, pondo-o á porta das Instituições, na franca direção do olho da rua, lhe fizeram este memorável discurso:
-«Zézinho, vae passear." [...] [Páginas 496 a 503, várias referências] [sic]
[Portugal Pittoresco e Illustrado. Lisboa com quatrocentas gravuras. Compilação e estudo por Alfredo Mesquita. Lisboa. 1.ª Edição. Empreza da História de Portugal. Sociedade Editora. Livraria Moderna, Rua Augusta, 95. Typographia, Rua Ivens, 45/47. MDCCCCIII. Edição fracsimilada Arquimedes Livros / Julho de 2006. 80 Exemplares. ISBN 9728917244]
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