Um sábado destes, a manhã decorria lenta e fria, quando um casal entrou na livraria.
Até aqui nada de estranho.
A senhora trazia na mão esquerda uma revista enrolada em canudo e, com a mão direita de quando de quando alisava as suas páginas.
Com uma certa timidez entabularam conversa. Seria esta a livraria que tinha uns gatos, conforme a história contada na revista – já para aí há uns dez anos – que tinham entre mãos?
Sim era. Mas a que vinham, por favor?
O casal contou a sua história. Durante muitos anos tinham tido um gato siamês, considerado como amigo e a que os ligava uma grande ternura. Esse gato, seguindo a inexorável lei da natureza, tinha falecido. A sua falta tinha sido muito sentida. Fizeram um luto de dois anos e sentiam-se agora preparadas para arranjar um novo amigo que lhes fizesse companhia nos frios serões do norte.
Tinham lido naquela revista – um exemplar antigo da “Tempos Livres” – uma entrevista minha à jornalista Lurdes Féria, onde eu falava com entusiasmo, da minha relação com os gatos que viviam na Livraria. Numa página da revista, uma fotografia minha com o gato Gil Vicente ao colo.
Gil Vicente surgia em toda a sua imponente beleza, olhando fixamente com os seus enormes e tão misteriosos olhos verdes. Verdadeiramente sedutor na sua pose de estrela.
Que desejava o casal? Perguntar-me se por acaso e fortuna, o Gil Vicente tinha deixado descendentes, pois tinham resolvido escolher para companheiro um gato da estirpe livreira caldense.
Desiludi o casal. O Gil Vicente não tinha deixado descendentes. Herdei a memória da sua ternura, a saudade do seu carinho, a lembrança da sua teimosia…
E quem sabe? A sua alma, desenhada em formas enigmáticas, erguendo-se de um gato bordaliano, captada pelo oportuno sentido do belo da Margarida Araújo...
Até aqui nada de estranho.
A senhora trazia na mão esquerda uma revista enrolada em canudo e, com a mão direita de quando de quando alisava as suas páginas.
Com uma certa timidez entabularam conversa. Seria esta a livraria que tinha uns gatos, conforme a história contada na revista – já para aí há uns dez anos – que tinham entre mãos?
Sim era. Mas a que vinham, por favor?
O casal contou a sua história. Durante muitos anos tinham tido um gato siamês, considerado como amigo e a que os ligava uma grande ternura. Esse gato, seguindo a inexorável lei da natureza, tinha falecido. A sua falta tinha sido muito sentida. Fizeram um luto de dois anos e sentiam-se agora preparadas para arranjar um novo amigo que lhes fizesse companhia nos frios serões do norte.
Tinham lido naquela revista – um exemplar antigo da “Tempos Livres” – uma entrevista minha à jornalista Lurdes Féria, onde eu falava com entusiasmo, da minha relação com os gatos que viviam na Livraria. Numa página da revista, uma fotografia minha com o gato Gil Vicente ao colo.
Gil Vicente surgia em toda a sua imponente beleza, olhando fixamente com os seus enormes e tão misteriosos olhos verdes. Verdadeiramente sedutor na sua pose de estrela.
Que desejava o casal? Perguntar-me se por acaso e fortuna, o Gil Vicente tinha deixado descendentes, pois tinham resolvido escolher para companheiro um gato da estirpe livreira caldense.
Desiludi o casal. O Gil Vicente não tinha deixado descendentes. Herdei a memória da sua ternura, a saudade do seu carinho, a lembrança da sua teimosia…
E quem sabe? A sua alma, desenhada em formas enigmáticas, erguendo-se de um gato bordaliano, captada pelo oportuno sentido do belo da Margarida Araújo...
2 comentários:
Bonita história esta: com algo de nostálgico, mas também alguma graça porque, segundo julgo saber, o Gil Vicente não tinha como ter descendência...
- Isabel X -
Não é uma história felina.Digamos que é ronronante...Soube-me lindamente. Muito obrigado
Jmiguel
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