Esta é a história de uma traça, Mimi de sua graça, que nasceu numa madrugada de Janeiro lá para os lados dos Casais Brancos, para as bandas de Óbidos.
Quando ela abriu os olhos, estonteada pelo sol que brilhava no céu azul, a custo, começou a bater as suas pequeninas asas e levantou voo.
Logo ali uma casa branca num quintal com uma laranjeira. As janelas rasgavam-se para um horizonte a perder de vista até ao mar.
A traça, voou mansinho e ao encontrar uma porta aberta, espreitou à esquerda e à direita e resolveu avançar.
Lá dentro que espanto. Ela nem queria crer no que via. Livros e livros, feitos de histórias, cores, letras e dos mais diversos e saborosos papéis. Pensou lá para consigo mesmo: o mundo é assim? É muito melhor do que eu podia desejar! Tanto papel: azul, verde, amarelo, lilás, rosa, com sabor a mar, a céu, a flores, as nuvens, eu sei lá que mais!...
Provou de tudo e depois de barriga inchada deitou-se a dormir ao sol em cima de uma enciclopédia do corpo humano. Aconchegou-se entre os relevos de uma mão desenhada.
Foi-se o dia e fez-se noite. E novo dia nasceu.
Mafalda entra determinada a classificar e arrumar uma partilha de livros que tinha chegado na véspera.
Pegava ela um braçado de livros, quando ouviu um muito leve bater de asas, quase um suspiro. Olhou em redor e deu de caras com a traça que voava baixinho sobre a enciclopédia. - Uma traça! Uma traça na Livraria?! Mafalda quase teve um chilique, mas logo dominou o seu pânico, abeirou-se da traça, pegou nela com muito cuidado para não lhe partir as patinhas, e colocou-a ao ombro. E disse-lhe: - Menina, tem juízo, fica aqui que eu levo-te a passear! Os livros não são para comer, são para ler.
E a traça por ali ficou, abrigada por debaixo da gola do casaco azul que a Mafalda vestia.
No dia seguinte Mafalda foi às Caldas da Rainha. E bem aconchegada no lenço que traçou ao pescoço, lá foi a traça, de quando em quando a esticar a cabecita para ver o que se passava.
Encontrámo-nos no Centro Cultural na apresentação dos “cromos” de Nuno Markl com ilustrações de Patrícia Furtado. Eis senão quando olho e digo espantada: - Mafalda está uma borboleta a passear no seu pescoço!
Mafalda riu-se e disse: - Borboleta qual quê! Então não se vê que é uma traça! Trago-a a passear pois se a deixo na livraria dá-me cabo do Soldadinho de Chumbo, da Bela Adormecida ou do Gato das Botas!
Com todo o carinho Mafalda tirou a traça do seu ombro e poisou-a no meu. – Fica bem ai! Ela vai gostar – Disse ela.
Levei a mão ao ombro fiz uma festinha à traça e disse: - Obrigada. Prometo tratar bem dela. E para já vou dar-lhe um nome: Mimi.
Estivemos mais um bocadinho na conversa e depois foi cada uma à sua vida. A Mimi lançou à Mafalda um olhar com uma lagriminha no canto do olho, acomodou-se e lá seguimos a caminho de casa.
Quando lá cheguei, mal entrei e a gata livreira Florbela veio dar-me as boas vindas. Cerrou os olhos verdes e disse-me: - Então que é isso? Agora temos concorrência? Outro bicho de estimação cá para casa?
- Florbela, concorrência qual quê? Então não vês que é uma traça e estas não são concorrentes dos gatos! Gostam de Livros, principalmente de poesia, e não comem carapaus! - Repliquei.
Florbela deu duas miadelas e lançou-me: - Isso é que tu te enganas! Então não sabes que os gatos também gostam de livros? Duvidas, tu, que me crias-te entre tanta filosofia, história, literatura, matemática, direito, e sei lá que mais?
- Tu que sabes que aqueles de que eu sempre mais gostei foi dos de caricatura? Rebolava-me ao dormir sobre eles… Se não é minha concorrente, é então o quê?
- Florbela, não sejas egoísta. Há livros em número suficiente para ambas. Além do mais a Mimi não vai ficar cá em casa. Vai fazer-me companhia na Oficina de Encadernação onde estou a aprender a mui nobre arte de encadernar livros. Ela gosta de livros antigos, e desses há muitos na oficina dos Mestres Florindo e Costa. Lá onde as pessoas levam os seus livros doentes, que ganham saúde nas mãos hábeis e sábias dos Mestres que os colam, cozem e por fim os revestem a ouro.
Florbela acalmou. Mimi voou para o livro que estava na prateleira mais alta no canto da estante. Um livro encadernado a pele, com o título gravado a ouro na horizontal da lombada “O Livro dos Casos Inimagináveis”.
Mimi com cuidado afastou as folhas e entrou no livro. Florbela saltou, deu duas voltas em redor de si mesma e aninhou-se, preparando-se para passar a noite.
Na manhã seguinte, ao sair de casa a caminho da oficina de encadernação, Mimi, como que aterrou no meu ombro e lá fomos as duas aprender a cuidar de tesouros, fazer de velhos, novos livros.
Para a Mafalda do Bichinho do Conto que ganhou o Prémio Booktailors 2012, pelo trabalho desenvolvido na sua Livraria.
Quando ela abriu os olhos, estonteada pelo sol que brilhava no céu azul, a custo, começou a bater as suas pequeninas asas e levantou voo.
Logo ali uma casa branca num quintal com uma laranjeira. As janelas rasgavam-se para um horizonte a perder de vista até ao mar.
A traça, voou mansinho e ao encontrar uma porta aberta, espreitou à esquerda e à direita e resolveu avançar.
Lá dentro que espanto. Ela nem queria crer no que via. Livros e livros, feitos de histórias, cores, letras e dos mais diversos e saborosos papéis. Pensou lá para consigo mesmo: o mundo é assim? É muito melhor do que eu podia desejar! Tanto papel: azul, verde, amarelo, lilás, rosa, com sabor a mar, a céu, a flores, as nuvens, eu sei lá que mais!...
Provou de tudo e depois de barriga inchada deitou-se a dormir ao sol em cima de uma enciclopédia do corpo humano. Aconchegou-se entre os relevos de uma mão desenhada.
Foi-se o dia e fez-se noite. E novo dia nasceu.
Mafalda entra determinada a classificar e arrumar uma partilha de livros que tinha chegado na véspera.
Pegava ela um braçado de livros, quando ouviu um muito leve bater de asas, quase um suspiro. Olhou em redor e deu de caras com a traça que voava baixinho sobre a enciclopédia. - Uma traça! Uma traça na Livraria?! Mafalda quase teve um chilique, mas logo dominou o seu pânico, abeirou-se da traça, pegou nela com muito cuidado para não lhe partir as patinhas, e colocou-a ao ombro. E disse-lhe: - Menina, tem juízo, fica aqui que eu levo-te a passear! Os livros não são para comer, são para ler.
E a traça por ali ficou, abrigada por debaixo da gola do casaco azul que a Mafalda vestia.
No dia seguinte Mafalda foi às Caldas da Rainha. E bem aconchegada no lenço que traçou ao pescoço, lá foi a traça, de quando em quando a esticar a cabecita para ver o que se passava.
Encontrámo-nos no Centro Cultural na apresentação dos “cromos” de Nuno Markl com ilustrações de Patrícia Furtado. Eis senão quando olho e digo espantada: - Mafalda está uma borboleta a passear no seu pescoço!
Mafalda riu-se e disse: - Borboleta qual quê! Então não se vê que é uma traça! Trago-a a passear pois se a deixo na livraria dá-me cabo do Soldadinho de Chumbo, da Bela Adormecida ou do Gato das Botas!
Com todo o carinho Mafalda tirou a traça do seu ombro e poisou-a no meu. – Fica bem ai! Ela vai gostar – Disse ela.
Levei a mão ao ombro fiz uma festinha à traça e disse: - Obrigada. Prometo tratar bem dela. E para já vou dar-lhe um nome: Mimi.
Estivemos mais um bocadinho na conversa e depois foi cada uma à sua vida. A Mimi lançou à Mafalda um olhar com uma lagriminha no canto do olho, acomodou-se e lá seguimos a caminho de casa.
Quando lá cheguei, mal entrei e a gata livreira Florbela veio dar-me as boas vindas. Cerrou os olhos verdes e disse-me: - Então que é isso? Agora temos concorrência? Outro bicho de estimação cá para casa?
- Florbela, concorrência qual quê? Então não vês que é uma traça e estas não são concorrentes dos gatos! Gostam de Livros, principalmente de poesia, e não comem carapaus! - Repliquei.
Florbela deu duas miadelas e lançou-me: - Isso é que tu te enganas! Então não sabes que os gatos também gostam de livros? Duvidas, tu, que me crias-te entre tanta filosofia, história, literatura, matemática, direito, e sei lá que mais?
- Tu que sabes que aqueles de que eu sempre mais gostei foi dos de caricatura? Rebolava-me ao dormir sobre eles… Se não é minha concorrente, é então o quê?
- Florbela, não sejas egoísta. Há livros em número suficiente para ambas. Além do mais a Mimi não vai ficar cá em casa. Vai fazer-me companhia na Oficina de Encadernação onde estou a aprender a mui nobre arte de encadernar livros. Ela gosta de livros antigos, e desses há muitos na oficina dos Mestres Florindo e Costa. Lá onde as pessoas levam os seus livros doentes, que ganham saúde nas mãos hábeis e sábias dos Mestres que os colam, cozem e por fim os revestem a ouro.
Florbela acalmou. Mimi voou para o livro que estava na prateleira mais alta no canto da estante. Um livro encadernado a pele, com o título gravado a ouro na horizontal da lombada “O Livro dos Casos Inimagináveis”.
Mimi com cuidado afastou as folhas e entrou no livro. Florbela saltou, deu duas voltas em redor de si mesma e aninhou-se, preparando-se para passar a noite.
Na manhã seguinte, ao sair de casa a caminho da oficina de encadernação, Mimi, como que aterrou no meu ombro e lá fomos as duas aprender a cuidar de tesouros, fazer de velhos, novos livros.
Para a Mafalda do Bichinho do Conto que ganhou o Prémio Booktailors 2012, pelo trabalho desenvolvido na sua Livraria.
2 comentários:
bela história e bela homenagem.
beijinhos Isabel
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