A começar, permitam-me que exprima o meu sentido agradecimento pelo prémio que acaba de me ser atribuído pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.
Atrevo-me agora a pedir alguns momentos da vossa atenção e a vossa benevolência para poder partilhar convosco um pouco do meu actual sentir.
Durante mais de 35 anos fui responsável por uma pequena livraria nas Caldas da Rainha e através dela pude concretizar, com êxito, um projecto que tinha por base um gosto de sempre, o profundo amor pelos livros.
No último dia do mês de Setembro do ano em curso, a Loja 107 encerrou as suas portas.
Não porque eu o tenha desejado, mas porque a isso fui obrigada por força de vários factores condicionantes desta especifica actividade e altamente prejudiciais ao normal funcionamento de uma livraria com as características da minha.
E não me estou a referir às tecnologias por muitos apontadas como um desses factores nem às mais modernas técnicas de marketing que pretendem fazer passar a mensagem que todos os livros agora publicados são, para além de grandes êxitos editoriais, obras que todos ansiavam por ler.
Há a crise, claro que há, o que num país como o nosso faz com que o livro seja colocado, obrigatoriamente, numa posição secundária perante as necessidades básicas do dia a dia de cada família.
Mas o que afectou decisivamente a actividade comercial da minha livraria foi, sem dúvida alguma, a brutal concorrência escudada no total desregulamento da comercialização do livro.
As livrarias não podem concorrer com as condições de oferta praticadas pelas grandes cadeias de distribuição, pelos grupos livreiros, pelas vendas on-line, nos Correios, nas feiras e feirinhas, em bombas de gasolina, pelas vendas levadas a cabo pelas próprias editoras, etc.
E apesar dos preços por todos estes intervenientes praticados, uma certeza eu tenho: ninguém, nenhuma destas entidades, vende os livros com prejuízo.
Este tipo de concorrência e de comercialização é fatal para uma pequena livraria.
Mas que digo eu, Senhores Editores e Distribuidores? Os senhores sabem bem o que se passa. Não estou a dar-vos novidade nenhuma. E já agora, que vem a talhe de foice: ainda está em vigor uma certa Lei do Preço Fixo, que há uns anos atrás tanta celeuma levantou?
Acabam de atribuir este prémio a alguém que se viu forçada a fechar a sua livraria mas que nunca deixará de se considerar uma livreira.
Que significado se poderá atribuir a este facto peculiar e aparentemente contraditório? Se algum houver a retirar daqui, que seja a ideia de que não podemos encarar como normal, ou como inevitável, o sistemático desaparecimento das pequenas livrarias que são, na maior parte dos casos, também agentes culturais locais.
Antes de terminar, permitam-me ainda um pouco de futurologia: o que se vislumbra no mercado livreiro deste país? Três ou quatro grupos editoriais a negociarem com três ou quatro grupos livreiros. Como consumidora, não me seduz esta visão que prenuncia um formato comercial demasiadamente uniformizado e pouco estimulante numa perspectiva cultural.
Atrevo-me agora a pedir alguns momentos da vossa atenção e a vossa benevolência para poder partilhar convosco um pouco do meu actual sentir.
Durante mais de 35 anos fui responsável por uma pequena livraria nas Caldas da Rainha e através dela pude concretizar, com êxito, um projecto que tinha por base um gosto de sempre, o profundo amor pelos livros.
No último dia do mês de Setembro do ano em curso, a Loja 107 encerrou as suas portas.
Não porque eu o tenha desejado, mas porque a isso fui obrigada por força de vários factores condicionantes desta especifica actividade e altamente prejudiciais ao normal funcionamento de uma livraria com as características da minha.
E não me estou a referir às tecnologias por muitos apontadas como um desses factores nem às mais modernas técnicas de marketing que pretendem fazer passar a mensagem que todos os livros agora publicados são, para além de grandes êxitos editoriais, obras que todos ansiavam por ler.
Há a crise, claro que há, o que num país como o nosso faz com que o livro seja colocado, obrigatoriamente, numa posição secundária perante as necessidades básicas do dia a dia de cada família.
Mas o que afectou decisivamente a actividade comercial da minha livraria foi, sem dúvida alguma, a brutal concorrência escudada no total desregulamento da comercialização do livro.
As livrarias não podem concorrer com as condições de oferta praticadas pelas grandes cadeias de distribuição, pelos grupos livreiros, pelas vendas on-line, nos Correios, nas feiras e feirinhas, em bombas de gasolina, pelas vendas levadas a cabo pelas próprias editoras, etc.
E apesar dos preços por todos estes intervenientes praticados, uma certeza eu tenho: ninguém, nenhuma destas entidades, vende os livros com prejuízo.
Este tipo de concorrência e de comercialização é fatal para uma pequena livraria.
Mas que digo eu, Senhores Editores e Distribuidores? Os senhores sabem bem o que se passa. Não estou a dar-vos novidade nenhuma. E já agora, que vem a talhe de foice: ainda está em vigor uma certa Lei do Preço Fixo, que há uns anos atrás tanta celeuma levantou?
Acabam de atribuir este prémio a alguém que se viu forçada a fechar a sua livraria mas que nunca deixará de se considerar uma livreira.
Que significado se poderá atribuir a este facto peculiar e aparentemente contraditório? Se algum houver a retirar daqui, que seja a ideia de que não podemos encarar como normal, ou como inevitável, o sistemático desaparecimento das pequenas livrarias que são, na maior parte dos casos, também agentes culturais locais.
Antes de terminar, permitam-me ainda um pouco de futurologia: o que se vislumbra no mercado livreiro deste país? Três ou quatro grupos editoriais a negociarem com três ou quatro grupos livreiros. Como consumidora, não me seduz esta visão que prenuncia um formato comercial demasiadamente uniformizado e pouco estimulante numa perspectiva cultural.
Para o tempo que vos roubei e para o que talvez possa ser tido como uma quebra no protocolo, peço uma vez mais a vossa compreensão.
Mas se não dissesse o que acabei de vos dizer, não me sentiria merecedora do prémio de Livreira com que acabaram de me distinguir.
E se me permitem, agora mesmo a finalizar e plagiando o Professor Carlos Fiolhais, direi, quando me perguntarem o que fiz pelo meu País e pela minha Terra, direi com muito orgulho, que divulguei livros e partilhei leituras.
Muito obrigada.
(palavras de agradecimento lidas na Cerimónia da Entrega de Prémios no Congresso do Livro realizado nos Açores)
Mas se não dissesse o que acabei de vos dizer, não me sentiria merecedora do prémio de Livreira com que acabaram de me distinguir.
E se me permitem, agora mesmo a finalizar e plagiando o Professor Carlos Fiolhais, direi, quando me perguntarem o que fiz pelo meu País e pela minha Terra, direi com muito orgulho, que divulguei livros e partilhei leituras.
Muito obrigada.
(palavras de agradecimento lidas na Cerimónia da Entrega de Prémios no Congresso do Livro realizado nos Açores)
6 comentários:
Nem sei o que te diga. Ou como o dizer...
Deixo-te um abraço, grata.
palavras sábias e com o olhar bem fixo na realidade, de um país que já pertence apenas a meia dúzia de capitalistas, que compram tudo o que mexe, para os utilizarem a seu bel-prazer, e claro, para ganharem mais umas moedas.
eles querem lá saber de preço fixo ou de concorrência leal, estão habituados a fazerem o que bem lhes apetece e assim continuará, porque nos deixámos enrolar no conforto e na mania que também éramos "ricos"...
beijinhos Isabel
e
PARABÉNS
Lá tás tu com o teu mau feitio...recebias o prémio e "prontos".
Isabel
Acompanhei no silêncio, mas sempre perto, o desfecho triste da cruel mudança dos tempos.Um prémio tem dois sabores, o doce e o amargo.
Deixo um forte abraço com amizade, Vitor Pires
PARABÉNS, D. Isabel! Para quem a conhece, esse prémio é mais do que merecido e tudo quanto possa vir a receber ficará aquém daquilo que doou ao longo da sua vida em prol dos livros e da cultura em geral. Votos de muitas felicidades futuras.
Que diria Nemésio?
junto àPraia,
da Vitória,
areal vulcânico
sem sabor a sal nem a maresia.
Que dizemos nós?
cada vez que passamos junto à 107, recusando vê-la vedada aos livros.
Que dizemos nós?
Perante o pressentido sofrimento da Isabel, por todas estas maldades, enunciadas no seu habitual e sincera resposta as elogios e às condecorações....
Que dizemos nós?
Abraço amigo e reconhecido,
NB
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