“Jacinto estendera o braço:
- Que casarão é aquele, além do outeiro, com a torre?
Eu não sabia. Algum solar de fidalgote do Douro…Tormes era nesse feitio atarracado e maciço. Casa de séculos e para séculos – mas sem torre.
- E logo se vê, da estação, Tormes?...
-Não, muito no alto, numa prega da serra, entre arvoredo.
No meu Príncipe, já evidentemente nascera uma curiosidade pela sua rude casa ancestral. Mirava o relógio, impaciente. Ainda trinta minutos! Depois, sorvendo o ar e a luz, murmurava, no primeiro encanto de iniciado:
- Que casarão é aquele, além do outeiro, com a torre?
Eu não sabia. Algum solar de fidalgote do Douro…Tormes era nesse feitio atarracado e maciço. Casa de séculos e para séculos – mas sem torre.
- E logo se vê, da estação, Tormes?...
-Não, muito no alto, numa prega da serra, entre arvoredo.
No meu Príncipe, já evidentemente nascera uma curiosidade pela sua rude casa ancestral. Mirava o relógio, impaciente. Ainda trinta minutos! Depois, sorvendo o ar e a luz, murmurava, no primeiro encanto de iniciado:
- Que doçura, que paz…
- Três horas e meia, estamos a chegar, Jacinto!
O espaço imenso repousava num imenso silêncio. Naquelas solidões de monte e penedia os pardais, revoando no telhado, pareciam aves consideráveis.
E ao fundo das faias, com efeito, aparecia o portão da quinta de Tormes, com o seu brasão de armas, de secular granito, que o musgo retocava e mais envelhecia.
[…]
Jacinto replicou, com uma decisão furiosa:
- Amanhã troto, mas para baixo, para a estação!... E depois, para Lisboa!
E subiu a gasta escadaria do seu solar com amargura e rancor. Em cima uma larga varanda acompanhava a fachada do casarão, sob um alpendre de negras vigas, toda ornada, por entre os pilares de granito, com caixas de pau onde floriam cravos.
[…]
Jacinto replicou, com uma decisão furiosa:
- Amanhã troto, mas para baixo, para a estação!... E depois, para Lisboa!
E subiu a gasta escadaria do seu solar com amargura e rancor. Em cima uma larga varanda acompanhava a fachada do casarão, sob um alpendre de negras vigas, toda ornada, por entre os pilares de granito, com caixas de pau onde floriam cravos.
Através das janelas escancaradas, sem vidraças, o grande ar da serra entrava e circulava como num eirado, com um cheiro fresco de horta regada. Mas o que avistávamos, da beira da enxerga, era um pinheiral cobrindo um cabeço e descendo pelo pendor suave, à maneira de uma hoste em marcha, com pinheiros em frente, destacados, direitos, emplumados de negro; mais longe as serras de alem rio, de uma fina cor de violeta; depois a brancura do céu, todo liso, sem uma nuvem, de uma majestade divina.
- E esta varanda também é agradável! – murmurou ele mergulhando a face no aroma dos cravos. – Precisa grandes poltronas, grandes divãs de verga …
Daquela janela, aberta sobre as serras, entrevia uma outra vida, que não anda somente cheia do Homem e do tumulto da sua obra.”
- E esta varanda também é agradável! – murmurou ele mergulhando a face no aroma dos cravos. – Precisa grandes poltronas, grandes divãs de verga …
Daquela janela, aberta sobre as serras, entrevia uma outra vida, que não anda somente cheia do Homem e do tumulto da sua obra.”
A Cidade e as Serras
[Eça de Queiroz. A Cidade e as Serras. Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses. 2001. 6.ª Edição].
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