Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Apresentação Dr. Carlos Querido



Minhas Senhoras e Meus Senhores, muito boa tarde.

Estar perante vós com a incumbência de apresentar um palestrante que é também um amigo, que sempre me distinguiu com a sua ternura e amizade – no que faz pleno jus ao seu apelido – deixa-me muito grata e dá-me uma grande alegria.

É assim com redobrado prazer que estou hoje na vossa companhia.

O Dr. Carlos Querido é o autor de duas obras inspiradas em temas locais, a saber, a «Praça da Fruta» e «Salir d’Outrora».

Hoje, dá-nos o privilégio de partilhar connosco as suas investigações sobre D. João V, o rei magnânimo, intimamente ligado à história local e que no verão de 1742 transformou as Caldas da Rainha na sua capital.

Se não fossem os livros como podíamos nós hoje ter conhecimento de factos vividos na cidade e pela cidade e de acontecimentos gerados pelas gentes de lugares, vilas ou lugarejos por mais recônditos que sejam ou tenham sido?

Sendo assim, é por bons motivos que me atrevo a pedir a vossa permissão e um pouco da vossa paciência para convosco relembrar a importância de alguns livros.

Desde logo por a nossa mais bela biblioteca levar o nome de D. João V.

Biblioteca onde os mais valiosos livros vivem guardados pelas sombras de morcegos que, de dia, se escondem por detrás da figura tutelar do rei magnífico.

Depois porque Caldas da Rainha se pode gabar de ter uma rica herança literária uma vez que desde tempos remotos a sua existência esteve intimamente ligada à palavra escrita.

Tomaria até a liberdade de dizer que esta terra foi parida por entre as palavras desenhadas num texto assinado por uma certa Rainha, onde ela definiu os seus princípios de conduta.

Ao longo dos tempos numerosos escritores, cientistas, turistas e poetas escreveram inspirados nesta cidade, o que nos permite sermos hoje os guardiões desses saberes contados.

«Não há nas Caldas
Melancolia
Dão alegria
Os ares seus»

Sabiam que se trata de palavras de Nicolau Tolentino de Almeida, o tal da cabeleira dentro do toucado, que por cá passou e deixou o seu testemunho, de par com as suas dores?

Não é este o momento e o local oportuno para vos fazer uma listagem exaustiva de todos aqueles que à nossa cidade dedicaram as suas loas ou os seus cânticos.

Gostava no entanto de convosco recordar alguns:

- O catalão Luis Vermell Y Busquets, autor de um livro frágil e de pequeno formato sobre o Real Hospital, que é, sem dúvida, uma das preciosidades da bibliografia caldense.

- O médico Ramalho Ortigão que, com precisão cirúrgica, descreveu os «tipos» caldenses, com particular incidência na indígena, cujos trajes cheiravam a maçã camoesa.

- O cronista Júlio César Machado, o grande caminhante da zona oeste, que com as descrições do mundo rural e dos seus passeios campestres, nos proporcionou o conhecimento da rica culinária regional.

- Augusto da Silva Carvalho, que com a sua Memória das Caldas nos legou não só preciosas informações do mister hospitalar como também sobre a vida social e politica de então.

- Manuel Pinheiro Chagas, que se queixou do piano do club matraqueando em contínuo polcas de manhã até à noite.

- Fialho de Almeida, o tal d’Os Gatos, que considerou a vila das Caldas comparável às mais célebres terras de águas francesas e alemãs.

- Jorge de São Paulo, padre lóio que nos legou a história do «Hospital das Caldas da Rainha até ao ano de 1656», obra sem a qual muito dificilmente nos seria possível reconstituir os tempos infantes da nossa terra.

- E Eça de Queiroz? José Maria, nunca sabia quem partia para as Caldas, quem estava nas Caldas, quem chegava das Caldas ...

- Francisco Giner de los Rios, o turista catalão que descreveu o refulgir dos azulejos da nossa capela, que considerou a mais bela da península.

- Já vos falei da Princesa Letizia Rattazzi que só «À Vol d’Oiseaux”» é que se apercebeu de que fez os seus tratamentos termais juntamente com as mulheres do povo?

- E Miguel Torga, que se queixou de que toda a gente fazia dele o confidente ideal das mais diversas maleitas?

- Não esqueço Alberto Pimentel que nas suas crónicas fez renascer o pipiar das andorinhas e que nos relatou as aventuras do Rei com outras aves, mais consentâneas com o paraíso…

- João Nunes Gago, Joaquim Inácio de Seixas Brandão, Francisco Tavares, alguns dos que dedicaram o seu interesse ao estudo das águas da Rainha, passando a escrito as suas impressões profilaxias e curativas.

- E um último nome: a referência a Rafael Bordalo Pinheiro que nos doou páginas de escrita e sobretudo de croquis, de caricaturas, de ilustrações que são, sem dúvida, alguma da nossa mais rica herança gráfica.

Espero não vos ter cansado com este longo desfiar de alguns dos escritores que se inspiraram na nossa terra, ainda que não se trate de uma listagem exaustiva, longe disso.

Mas para quem ama, lê, guarda e divulga os livros, é sempre motivo de grande satisfação prever que o nosso conhecimento e a nossa biblioteca serão em breve enriquecidos com um novo exemplar que terá, provavelmente, por título «Caldas da Rainha, capital do reino no verão de 1742», e por autor Carlos Querido.

Desse modo, a nossa herança ficará ainda mais rica.

Muito obrigada.

13 de Maio de 2012

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