Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

361.ª Página Caldense



Tríptico Cristovão de Figueiredo (das Caldas da Rainha) entre dois painéis de Francisco Henriques. Em 1.º plano, à direita, a Custódia de Belém.

Exposição de Arte Portuguesa realizada em Londres na Royal Academy of Arts, Outubro de 1955 - Fevereiro de 1956.

Fonte: Galeria da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vou Ou Não Vou ?

Já não sei se irei passar o fim de ano à Argentina.
Tive uma proposta para ir a Paris.
Vou ou não vou ? Estou sem saber para onde vou! Terei que pedir ajuda ao José Régio ?...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

Autor Caldense - Um dos melhores da década


José Ricardo Nunes incluído na lista dos mais significativos poetas da última década, por Eduardo Pitta, na revista Ler de Dezembro de 2009.

JR Nunes nasceu nas Caldas da Rainha, em 1964.

O meu Boneco de Neve


O meu boneco de Neve media cerca de um metro e vinte de altura, mais largo que barrigudo, mostrava-se com uma cara carrancuda e ainda por cima, careca.

Trouxe-o debaixo do braço, pu-lo no chão e perguntei-lhe: - o que é que eu vou fazer contigo, que te mostras tão pouco engraçado?

É claro que ele ficou mudo e quedo. A minha vontade era de o deixar lá fora, à porta, ao frio e à chuva.

E pensei cá para comigo: - mas que boneco é este, que mais se parece com o abominável homem das neves, ao invés de um boneco de neve alegre e terno?

Pensei, pensei, quase desesperei até que me veio à lembrança: - então são ou não, os livros mágicos?

Não são eles que nos conduzem a mundos nunca imaginados, que nos proporcionam momentos de alegria, que nos ensinam o desconhecido, que nos fazem companhia, que se tornam nossos indispensáveis amigos na jornada na vida?

E disse para o meu boneco tão pouco engraçado: - vou fazer-te de livro!

E assim fiz.

Os olhos são livros para ler. O nariz é um livro para a cheirar. A boca é um livro para saborear. Pestaneja, de um modo absolutamente sedutor, páginas de livros. Os ouvidos são livros para ouvir. Os braços e as mãos são livros para abraçar. Na cabeça um livro para pensar. E no lugar do coração, um livro para amar.


E o meu boneco de neve transfigurou-se no mais bonito boneco de neve, porque é feito de livros e de amor.


[Diz a sabedoria popular: Quem o feio ama, bonito lhe parece.]

Os Bonecos de Neve das Caldas










Os Bonecos de Neve nas ruas da Cidade das Caldas da Rainha

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Coisas de Gatos

A cumplicidade
A sedução

O descanso

A surpresa

A ousadia
O fascínio

Amizade


A um gato
Os espelhos não são mais silenciosos
Nem mais furtiva a alba aventureira;
Tu és, sob o luar, essa pantera
Que só vemos de longe, receosos.
Por obra indecifrável de um decreto
De Deus, te procuramos futilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É teu isolamento mais secreto.
Teu dorso condescende com a morosa
Carícia desta mão. Admitiste,
Desde essa eternidade que é o triste
Esquecimento, o amor da mão medrosa.
Existes noutro tempo. E és o dono
De um domínio fechado como um sono.

Jorge Luis Borges, Obras Completas, Vol II

Agradeço a colaboração dos amigos que me enviram as imagens.

Um aviso particular à Isabel Xavier que me enviou o poema: fico à espera de mais.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

360.ª Página Caldense

Nestes últimos tempos a actividade tem sido contínua.

Em Outubro apresentámos “A Praça da Fruta” de Carlos Querido, autor caldense.

Iniciámos Novembro colaborando com a Associação Património Histórico, na apresentação de “Caldas da Rainha no Tempo da II Guerra Mundial” de Mário Tavares, outro autor da terra.

Na semana seguinte, calcorreámos a cidade na companhia de Bordalo Pinheiro.

Uns dias depois recebemos a visita de António Lobo Antunes, um autor que consideramos como nosso.

Entretanto um gato de cara pasmada entrou na livraria e por aqui andou a fazer estragos. Desceu, subiu, desceu, subiu pela coluna preta e finalmente parou a olhar para os livros expostos sobre a mesa.
Ainda estou para saber o que é que ele escolheu para ler. Ou ainda não se decidiu?

Dezembro começou da melhor maneira; com a visita de Ricardo Araújo Pereira.

Apresentei-o, dizendo:

“Muito boa noite e muito obrigada pela vossa presença neste Café Literário, promovido pela Loja 107.

Se me permitem, começo por agradecer à Direcção do Centro Cultural e de Congressos o incondicional apoio sempre dado à realização destes encontros que têm por objectivo a partilha de leituras com a cidade.

À editora Tinta da China, o meu reconhecimento por ter acedido a trazer às Caldas da Rainha mais um dos seus autores.

Bárbara Bulhosa, muito obrigada.

O nosso autor convidado desta noite dispensa qualquer apresentação.

Todos nós o conhecemos dos diversos programas televisivos onde, em parceria com os seus companheiros de trabalho, faz a dissecação impiedosa da nossa sociedade, desmontando com ironia os tiques e os clichés de um mundo ôco que vive e se alimenta de frases feitas e do espectáculo permanente.

É talvez menos popular a sua actividade de cronista semanal.

Quanto a mim, confesso que às quintas-feiras – dia de saída da revista “Visão” – contrariando o cânone recomendado pelo mais básico bom senso, ao começar a folheá-la, faço-o sempre pela última página.

E porquê? Porque é aí que encontro a “Boca do Inferno”, assinada por Ricardo Araújo Pereira.

A crítica feita pelo riso e a análise social mediada pelo humor, são das mais difíceis formas de comunicação: para resultar, têm que ser feitas com fina inteligência, de ridicularizar sem ofender, de dar ênfase a atitudes imperceptíveis, de brincar com situações inesperadas.

Fazer rir é, quanto a mim, a mais difícil das artes, e, no que respeita a esta opinião, sei que estou em muito boa companhia.

Nas suas crónicas, Ricardo Araújo Pereira consegue ser impiedoso na leitura dos factos sociais e, ao mesmo tempo, implacável nas soluções que equaciona.

Vejamos, por exemplo, quando escreve o seguinte:

“Parece clara a razão pela qual não existe pena de morte em Portugal não tem que ver com pruridos morais, mas com problemas jurídicos. No nosso país, crimes graves podem ser punidos com pena suspensa. Seria uma questão de tempo até um tribunal português decretar uma sentença de condenação à morte por injecção letal suspensa. Nós não abolimos a pena de morte por amor à dignidade do ser humano. Foi por medo do ridículo.”

Com toda a propriedade podemos considerar esta análise mordaz da justiça em Portugal, verdadeiramente mortífera.

Aqueles que me conhecem sabem que tenho uma admiração incomensurável pela obra de um dos nossos grandes caricaturistas sociais: Rafael Bordalo Pinheiro.

Assim, a maior homenagem que posso prestar ao meu convidado de hoje, é dedicar-lhe uma definição de humor com origem na pena de Bordalo Pinheiro.

Aqui vai:

“Humor é o mesmo que pregar um prego no estuque novo de uma casa, com protesto de senhorio.”

Ricardo Araújo Pereira é um mestre a pregar pregos e queremos garantir-lhe que, sempre que quiser, havemos de arranjar muitos estuques para pôr à sua disposição.

Muito obrigada”.

Serões inesquecíveis passados na melhor das companhias. Entre amigos.