Cavacos das Caldas
CAVACOS DAS CALDAS II

DICIONÁRIO GRÁFICO BORDALIANO

alguns livros, cerâmicas, belos gatos e algo mais...



quarta-feira, 16 de abril de 2008

276.ª Página Caldense

DONA LEONOR
JOÃO AMEAL
[…]
"Já antes, ainda em vida do marido, a Rainha tomou uma das iniciativas que haviam de consagrar e aureolar o seu nome: a fundação do Hospital das Caldas. Frei Jorge de São Paulo, na sua crónica tão densa, História da Rainha D. Leonor e da fundação do Hospital das Caldas, fornece abundantes pormenores a tal respeito.

Como surgiu essa ideia no espírito da viúva de D. João II ?

Várias são as versões aduzidas para explicá-lo.

Segundo uma delas, a Rainha achou-se quasi paralítica na Quaresma de 1483 em Almeirim, depois de um mau sucesso. Consultados os médicos «a aconselharão se fosse pêra a sua villa de Óbidos tanto que entrasse o tempo quente e tomasse banhos naquellas Agoas Calidas que arrebentavão no termo da mesma Villa». Seguiu o conselho, mandou construir uma espécie de tanque em que se banhou – e, visto ter-se curado, prometeu «a D. e á Sacratissima May … edificar naquelle lugar um magnifico Hospital.»

Segundo outra – comunicada pelo tabelião Francisco de Araújo – «passando a Rainha D. Leonor da Cidade de Coimbra pêra a sua villa de Obidos leza de hum cancro que padecia e fazendo grande calma se tirou das Andas em que vinha e assentava junto a esta fonte de Agoa Calida lavou com ella o seu cancro e milagrozamente sarara e logo ordenara a fabrica deste Hospital…»

A terceira versão, que por todos os motivos se afigura mais verosímil, pois coincide com outros elementos da biografia da Soberana – é a seguinte. Em Julho de 1484, foi Dona Leonor da «sua Villa de Óbidos (era velha tradição ser Óbidos dada em dote às Rainhas portuguesas, e assim, sucedeu, por exemplo, com Dona Isabel de Aragão, mulher de D. Diniz e Dona Leonor Teles, mulher de D. Fernando) ter à Batalha com o Rei, que a esperava para juntos assistirem às exéquias ali celebradas todos os anos por alma de D. Afonso V. Ao atravessar uma zona quási deserta, reparou numa cova onde alguns doentes de aspecto miserável se achavam imersos em água fumegante. Ouça-se o Cronista, que nos descreve a cena com saboroso colorido: - «que fazião aquelles pobres lançados naquella agoa fumoza? Responderão serem doentes de frieldades e que se approveitavão da virtude daquelles banhos para remédio medicinal e salutifero de seus males e neles receberem melhoria, e que muita gente tolhida sarava de todo como tinhão esperimentado; e neste passo dixera a Rainha: «Se o Senhor Deus me der vida os pobres de Christo seu filho terão melhor commodidade em suas curas

Na sua compassiva sensibilidade germinara o projecto de edificar ali um vasto Hospital provido do que fosse necessário para assegurar conforto aos enfermos desprovidos de meios." […] [Páginas 231, 232 e 233]

[Dona Leonor «Princeza Perfeitissima». João Ameal. Livraria Tavares Martins. Porto. 1.ª Edição, 1943. Este livro «D. Leonor» acabou de se imprimir aos 12 de Dezembro de 1942, na Tipografia Sequeira, Ldª., no Porto. ]

1 comentário:

Anónimo disse...
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